A nêga virada no estopor, o miserê de calçolão, quando subiu nas tamancas o tempo fechava! E com ela era assim, a conta dos mortos quem faz são os vivos.
Maria Preá fazia a conta e mandava para casa do falecido com o seguinte recado: “farinha pouca meu pirão primeiro”. Não adiantava a família reclamar, porque se chiar resolvesse, sal de fruta não morria afogado! A desgraçadona de fogo nas ventas e “sangue no olho” marcava em cima! Era todo santo dia na porta do defunto armando seu quiproquó (confusão), desfilando seu arsenal de palavrões e pragas. A baixaria se dava dia e noite, e a família do filho de uma ronca e fuça (porca), ouvia o trovejar da voz de Maria Preá cobrando a dívida como se fosse a trombeta do apocalipse.
E como quem tem boca não manda assoprar, Maria Preá com eu bocão de megafone, soltava seu verbo até que a família do pinguço, exausta de bater boca e com vergonha, jogava a toalha, concordando em pagar a dívida.
Pois é! Com a Maria Preá a rapadura é doce mais não mole não! E água mole em pedra dura tanto bate até que fura!
Dívida no boteco de dona desgraçadona é sagrada, e ai daquele que não pagar! A vingança vem a galope, porque com ela aqui se faz aqui se paga! E o galope de Maria Preá é em cima dos tamancos, acompanhado dos requebros nervosos de seu pandeiro.
Reinaldo Souza
Texto publicado na Revista Lupa
Nº 7 Ano: 2009