quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Maria Preá, a dona do Boteco Quente.

A nêga virada no estopor, o miserê de calçolão, quando subiu nas tamancas o tempo fechava! E com ela era assim, a conta dos mortos quem faz são os vivos.
Maria Preá fazia a conta e mandava para casa do falecido com o seguinte recado: “farinha pouca meu pirão primeiro”. Não adiantava a família reclamar, porque se chiar resolvesse, sal de fruta não morria afogado! A desgraçadona de fogo nas ventas e “sangue no olho” marcava em cima! Era todo santo dia na porta do defunto armando seu quiproquó (confusão), desfilando seu arsenal de palavrões e pragas. A baixaria se dava dia e noite, e a família do filho de uma ronca e fuça (porca), ouvia o trovejar da voz de Maria Preá cobrando a dívida como se fosse a trombeta do apocalipse.
E como quem tem boca não manda assoprar, Maria Preá com eu bocão de megafone, soltava seu verbo até que a família do pinguço, exausta de bater boca e com vergonha, jogava a toalha, concordando em pagar a dívida.
Pois é! Com a Maria Preá a rapadura é doce mais não mole não! E água mole em pedra dura tanto bate até que fura!
Dívida no boteco de dona desgraçadona é sagrada, e ai daquele que não pagar! A vingança vem a galope, porque com ela aqui se faz aqui se paga! E o galope de Maria Preá é em cima dos tamancos, acompanhado dos requebros nervosos de seu pandeiro.



Reinaldo Souza
Texto publicado na Revista Lupa
Nº 7 Ano: 2009

SEM TÍTULO


Sabe aqueles dias que você amanhece de calundu, sem a mínima inspiração de fazer alguma coisa que preste e até pensar cansa? Pois é! Eu estou naqueles dias! Antes que você pense que eu estou menstruado, quero dizer que não fiz nenhuma mudança de sexo e nem pretendo fazer, e eu estou muito contente com o material que Deus me deu! Ser homem tem muitas vantagens, como por exemplo, ser rápido ao se arrumar, ser objetivo na hora de escolher o que comprar em shopping e supermercados, e nenhum homem em uma festa badalada volta para casa só porque o outro está com a mesma roupa! Eles dão risadas da coincidência e ainda ficam amigos, e a mulher? No mínimo vai dar aquele olhar fulminante na rival, com aquela cara de ódio feito um matador de aluguel, torcendo que a outra criatura quebre o salto dançando e se arrebente no chão! Ou pior, que a outra passe mal e vomite no próprio vestido!
O mais provável é que uma das duas ou as duas se retirem da festa para ninguém ficar sabendo em qual liquidação as roupas vieram. Enfim, mulher é um bicho complicado mesmo!
As desvantagens por conta de ser homem vão desde servir de burro de carga (carregando qualquer peso que a dona do pedaço queira, seja acima de sua força ou não), a estar sempre provando a macheza, a força, o vigor sexual, cumprindo aquelas “obrigações” que foram dadas a ele. Homem que é homem paga conta do restaurante para a mulher, faz filho, sustenta toda a família sem depender da esposa, não chora e nem reclama que está cansado. Repare que quando um homem não quer fazer algo ou não consegue fazer, vem a célebre frase: “Você não é homem não?” É “bizarra” essa frase, já roubando a expressão de minha colega de curso Fernanda Mariano. Em pleno séc. XXI a gente ter que ouvir esse tipo de frase e ver a mulher usando o estigma de sexo frágil quando bem lhe convém, depois de ter exigido e conseguido direitos iguais, é muito bizarro!
Eu não quero escrever mais nada, aliás, eu nem sei porque escrevi essas besteiras, estou de “ovo virado”! Não me pergunte como isso aconteceu, pois tem coisa que “só se vê na Bahia”. Estou sem paciência, sem ideias, sem a mínima vontade de raciocinar, e chame isso do que quiser, de síndrome do bicho preguiça, de final de vida, ou qualquer outro nome, pouco me importa! Todo mundo tem seus dias de azedume, de querer se isolar e não ter contato com uma viva alma, e porque comigo, pobre mortal, seria diferente? Olhe, você me deixe aqui com o meu calundu e vá ler coisas mais interessantes! E se é por falta de adeus... então adeus!

Reinaldo Souza  
27/10/2008